O julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF), que questiona a presença de símbolos religiosos em locais públicos e repartições governamentais, traz à tona debates profundos sobre a identidade cultural e o futuro das expressões religiosas no Brasil. Como um país historicamente construído sob bases cristãs, a remoção desses símbolos pode representar mais do que uma simples adequação à laicidade do Estado, sinalizando uma possível desconexão com as raízes culturais nacionais e um futuro em que manifestações religiosas podem se tornar cada vez mais limitadas.
Interferência na Cultura Brasileira e a Base Cristã do País
Desde a sua fundação, o Brasil incorporou elementos cristãos em seu desenvolvimento cultural e social, com símbolos, tradições e práticas profundamente entrelaçados ao cotidiano e à identidade nacional. A presença de crucifixos e outros objetos religiosos em repartições públicas é, em grande medida, uma representação dessa herança. A retirada desses símbolos pode ser vista como uma interferência direta em uma tradição cultural estabelecida, que poderia estar sendo forçada ao esquecimento.
Diferente de simplesmente ser uma prática religiosa, esses símbolos funcionam como um elo com as origens históricas do país e refletem um respeito à maioria da população que professa a fé cristã. Ao prosseguir com esse tipo de mudança, corremos o risco de, gradualmente, substituir nossa cultura fundacional por um modelo de neutralidade que não reflete a realidade do povo brasileiro.
Uma Semelhança com o Modelo Francês e a Perda da Identidade Cultural
O Brasil, ao adotar um modelo laico mais rígido, pode seguir um caminho semelhante ao da França, que implementou uma laicidade estrita, onde a exibição de símbolos religiosos é proibida em prédios públicos desde 1905. O modelo francês, embora voltado à neutralidade, é criticado por ter levado à perda de parte da identidade cultural do país, afastando símbolos e práticas que formavam parte da história e das tradições nacionais.
Com o tempo, essa postura rígida de neutralidade contribuiu para o distanciamento dos cidadãos de suas raízes culturais e religiosas, transformando a França em um país onde o espaço público é desprovido de referências a qualquer crença ou identidade tradicional. O Brasil, caso decida seguir uma linha semelhante, pode enfrentar um processo semelhante de “desidentificação” cultural ao longo dos anos.
Inclinação ao Estado Laico: O Risco da Proibição dos Símbolos Religiosos 
O conceito de laicidade do Estado, previsto na Constituição brasileira, visa a garantir que o governo não imponha ou favoreça uma religião específica. No entanto, há uma diferença entre o Estado laico – que permite e respeita todas as manifestações religiosas – e um Estado laicista, que limita e restringe tais manifestações. A decisão do STF pode marcar um primeiro passo para uma laicidade mais restritiva, que futuramente pode vir a dificultar a expressão pública de crenças religiosas.
Esse julgamento pode, em longo prazo, abrir caminho para uma postura ainda mais restritiva do Estado em relação à fé, impedindo que símbolos ou práticas religiosas façam parte do espaço público e, possivelmente, desincentivando o apoio cultural e histórico a elas. A exemplo do que ocorre em alguns países europeus, isso pode levar a um ambiente onde os cidadãos se sentem menos livres para expressar sua fé em espaços comuns, prejudicando a diversidade e liberdade religiosa.
Conclusão
O julgamento no STF levanta uma questão fundamental: ao avançarmos em direção a um Estado mais estritamente laico, estaríamos também desconsiderando elementos essenciais da identidade e cultura brasileira? A decisão de remover símbolos religiosos de espaços públicos pode ir além de uma simples adequação à laicidade, representando um afastamento das raízes culturais e uma mudança na forma como a sociedade se vê e se identifica.
Para o mercado financeiro, essa discussão sobre identidade e neutralidade pode afetar tanto a percepção de investidores estrangeiros quanto o próprio ambiente cultural para negócios no Brasil. Assim como ocorreu na França, uma laicidade estrita pode redefinir o espaço público, mas também gerar perdas culturais significativas, que devem ser consideradas para que o Brasil não perca elementos que fazem parte de sua história e tradição.
FONTE: REVISTA OESTE